quinta-feira, 10 de março de 2016

A incrível geração de Mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem não quer



          Às vezes olho para mim imaginando um homem hipotético que descreva assim a mulher dos seus sonhos: 
Ela tem que trabalhar e estudar muito, ter uma caixa de emails sempre lotada. Os pés devem ter calos e bolhas porque ela anda muito com sapatos de salto, para lá e para cá.
Ela deve ser independente e fazer o que ela bem entende com o próprio salário: comprar uma bolsa cara, doar para um projeto social, fazer uma viagem sozinha pelo leste europeu. Precisa conduzir bem e entender de imposto de renda.
Cozinhar? Não precisa! Tem um certo charme em errar até no arroz. Não precisa ser toda definida, porque não dá tempo de fazer tudo o que ela faz e ainda ter tempo para treinar.
Mas acima de tudo: ela tem que ser segura de si e não querer depender de mim, nem de ninguém.
Pois é. Ainda não ouvi esse discurso de nenhum homem. Nem mesmo parte dele. Vai na volta é por isso que estou solteira aqui, na luta.
A verdade é que eu tenho andado a pensar nisso. Na incrível dissonância entre a criação que nós, meninas e jovens mulheres, recebemos e a expectativa da maioria dos meninos, jovens homens, homens e velhos homens.
O que os nossos pais esperam de nós? O que nós esperamos de nós? E o que eles esperam de nós?
Somos a geração que foi criada para ganhar o mundo. Incentivadas a estudar, trabalhar, viajar e, acima de tudo, construir a nossa independência. Os poucos bolos que fiz na vida nunca fizeram os olhos da minha mãe brilhar como as provas e testes com boas notas. Os dias em que me arrumei de forma impecável para sair nunca estamparam no rosto do meu pai um sorriso orgulhoso como o que ele deu quando entrei no mestrado. Quando resolvi fazer um breve curso de noções de gastronomia os meus pais acharam “bacano”. Mas quando resolvi fazer um breve curso de língua e civilização francesa na Sorbonne eles inflaram o peito como pombos.
Não tivemos aula de corte e costura. Não aprendemos a rechear um frango. Não nos chamaram para trocar a fralda de um priminho. Não nos explicaram a diferença entre alvejante e água sanitária. Exactamente como aconteceu com os meninos da nossa geração.
Mas ensinaram-nos sobre desporto. Fizeram-nos aprender inglês. Aprender a conduzir. Aprender a construir um bom currículo. A trabalhar sem medo e a investir o nosso dinheiro. Exactamente como aconteceu com os meninos da nossa geração.
Mas, escuta, alguém se lembrou de avisar os tais meninos que nós seríamos assim? Que nós disputaríamos as vagas de emprego com eles? Que nós iríamos querer jantar fora, ao invés de prepararmos o jantar? Que nós iríamos gostar de cerveja, whisky, futebol e UFC? Que iríamos ter paciência para dar muita satisfação? Que nós seríamos criadas para encontrar a felicidade na liberdade e o pavor na submissão?
Aí, nós mulheres, com a nossa camisa social que amassou no fim do dia, a nossa bolsa pesada, o nosso telemóvel a apitar com os 26 novos emails, amigas à nossa espera para jantar, carro sem lavar, 4 reuniões marcadas para amanhã, e perguntamos: “Que raio de homem vai me querer?”.
“Talvez se eu fosse mais delicada… Não dissesse palavrões. Não tivesse subordinados. Não dirigisse sozinha à noite sem medo. Talvez se eu aparentasse fragilidade. Talvez se dissesse que não me importo de lavar cuecas. Talvez…”
Mas não. Essas não somos nós. Nós queremos um companheiro, lado a lado, de igual para igual. Muitas de nós sonham com filhos. Mas não só com eles. Nós queremos fazer um risoto. Mas vamos querer morrer se ganharmos um liquidificador de aniversário. Nós queremos contar como foi o nosso dia. Mas não vamos admitir que alguém questione a nossa rotina.
A verdade é: quem foi educado para nos querer? Quem é seguro o bastante para amar uma mulher que voa? Quem está disposto a fazer-nos querer pousar ao seu lado no fim do dia? Quem entende que deitar no seu peito é a nossa forma de pedir colo? E que às vezes nós vamos precisar do seu colo e às vezes só vamos querer companhia para um vinho? Que somos a geração da parceria e não da dependência?
E não estou aqui, num discurso inflamado, a culpar os homens. Não. A culpa não é exactamente deles. É da sociedade como um todo. Da criação equivocada. Da imagem que ainda é vendida da mulher. Dos pais que criam filhas para o mundo, mas querem noras que vivam em função da família.
No fim das contas não somos nada do que o inconsciente colectivo espera de uma mulher. E o melhor: nem queremos ser. Que fique claro, nós não vamos andar para trás. Então vai ser essa mentalidade que vai ter que andar para a frente. Nós já nos abrimos para ganhar o mundo. Agora é o mundo que tem que se virar para nos ganhar de volta.
Texto de Ruth Manus

5 comentários:

  1. Esse texto sz Tive uma conversa com uma amiga recentemente sobre isso. Adorei a forma como conseguiu colocar tudo que muitas, inclusive eu, pensam sobre esses questionamentos que temos quando descobrimos nossa felicidade na liberdade. Ainda espero ansiosamente ouvir um discurso desse vindo de um cara. Mantenho as esperanças, mas até lá a vida não para, certo?

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  2. O problema da liberdade é que, quando a mulher atinge a tal liberdade, ela quer que o homem acompanhe essa liberdade, como uma menina que atinge a maturidade mais rapido que o namorado e espera que ele faça o mesmo, só que a liberdade para o homem causa diferentes reações. O homem é territorialista e egoista, homem tem que aprender a dividir o que conquistou com o tempo e quando duas pessoas atingem essa liberdade, elas ja tem sua vida, suas coisas. A mulher consegue facilmente deixar um homem se aproximar emocionalmente e compartilhar a vida que conquistou, o homem não. Claro que não são todos, mas o homem tem a péssima mania de associar liberdade com o fato de que ele não se quer preso a ninguém. As mulheres não podem esperar um homem que saiba tomar vinho, compartilhar o dia e tudo mais que citou no texto, como se fosse um galã de filme, também porque as mulheres não sao todas divas do salto alto ou uma Angelina da vida. Todos são diferentes, essa novela raramente acontece. A moça formada, independente e seggura de sí assusta 80% dos homens com sua imponência e dos 20% que restam, que sao independentes, educados e cis, não querem esse tipo de mulher. A verdade é, eu também faço parte dela, homem gosta de mulher que deixe ser cuidada, que ele seja útil pra ela, que ele abra o pote e tudo mais e ela lhe retribua o carinho que ele tenta demonstrar sendo útil. Não importa tanto se a mulher trabalha ou fica em casa, homem não se importa com isso. As mulheres estão virando tão machos quanto nossos amigos e pra isso, ja temos amigos. Na minha humilde opinião e na de muitos que conheço, homem gosta de mulher mulher, mulher princesa, e isso não vai mudar. Faz parte da essencia do homem querer se sentir útil.

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  3. Thalles Vinícius, parabéns pela sua sinceridade,mas a verdade que nossa sociedade masculina em sua maioria há muito que exige tudo de uma mulher, principalmente a independência, além de ser bonita ,inteligente,Alegre, bem formada, Boa motorista, e, qdo casa, boa administradora do lar e Boa mãe. Só. Agora já que podemos ser tudo isso, não precisamos mais do homem, ou d o marido, como outrora, para ter segurança, Então, homem com compromisso , virou um item bem abaixo na lista.

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  4. Thalles Vinícius, parabéns pela sua sinceridade,mas a verdade que nossa sociedade masculina em sua maioria há muito que exige tudo de uma mulher, principalmente a independência, além de ser bonita ,inteligente,Alegre, bem formada, Boa motorista, e, qdo casa, boa administradora do lar e Boa mãe. Só. Agora já que podemos ser tudo isso, não precisamos mais do homem, ou d o marido, como outrora, para ter segurança, Então, homem com compromisso , virou um item bem abaixo na lista.

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  5. Eu nunca li tanta besteira e tanta falácia, quanto ao argumento acima do thalles vínicios.'desconfio que o nosso amigo não seja homem.'

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